SOBRE O DILEMA DO OURIÇO, SABER COM QUEM E COMO SE RELACIONAR E OUTRAS QUESTÕES

Apesar de pensar quase o dia inteiro sobre isso, eu meio que não sei por onde começar na hora de colocar tudo por escrito. Acho que o começo de tudo é a mistura de um medo de me isolar, com o medo de estar constantemente incomodando.

Rogério Porto Ribeiro
4 min readJun 27, 2023

Parando para pensar, eu estou vivendo um momento bem chato com o dilema do ouriço. Eu sempre me vi às voltas com a tentação de só deixar a interação com as outras pessoas de lado e ficar comigo mesmo. Isso porque eu sofro de modo constante com o medo de estar incomodando, ao mesmo tempo que sinto necessidade igualmente constante de aprovação pelos meus pares. Então mesmo sentindo necessidade de pertencer a uma comunidade, eu não lido bem com os altos e baixos que bem com tal convivência.

É óbvio que ao conviver com outras pessoas, não teremos só dias bons. Humores e circunstâncias mudam, especialmente os humores de uma pessoa com ansiedade generalizada. Aí de novo vem a tentação de lidar apenas com a previsibilidade de uma constante, que por mais que seja dolorosa por vezes, ainda seria uma constante controlável: a solidão.

E quando eu digo solidão, não estou falando daqueles momentos que a gente tira pra si. Eu gosto de estar e fazer coisas sozinho às vezes, desde ir ao cinema, até ir a um restaurante que eu goste. Aqui estou falando de me sentir tentado a encarar até as partes ruins, de estar sozinho quando na verdade eu não queria estar sozinho, só pra ter uma constante que eu, apenas teoricamente, controlaria.

Apesar de ter me pego às voltas com essas questões várias vezes ao longo de toda minha vida, atualmente me vejo mais uma vez nessa situação por conta de alguns problemas que estou enfrentando atualmente na minha vida. Sem dar detalhes, tem duas pessoas que são muito importantes pra mim, em graus e formas diferentes, mas bem importantes. Que de forma quase constante adoram apontar o quão desagradável/insuportável/chato/insira outro adjetivo aqui eu sou. Por mais que eu, de forma racional, entenda que essa situação diz respeito a determinado contexto, entenda que nem de longe sou a pessoa mais desagradável do mundo, e que tenham inúmeras outras pessoas na minha vida que discordem destas duas em diversos níveis. Eu não consigo deixar de me apegar e dar uma grande importância ao que esses dois indivíduos falam, ainda por cima eu faço questão de ignorar as questões de contexto e intimidade que coloquei acima.

Mas por quê?

Eu tenho tentando responder essa pergunta ao longo das últimas semanas e algumas coisas me passaram pela mente. Talvez eu me apegue tanto a esses apontamentos negativos por eles virem de duas pessoas especiais para mim, mas mesmo se for isso, essas pessoas são especiais pra mim porque elas demonstram amor por mim muito mais do que apontam defeitos, então esse fator não explicitaria o motivo de eu me focar tanto no negativo, sendo que, de verdade, a relação no geral com essas pessoas é muito mais positiva.

Outra coisa quem pensei, foi que talvez eu me prendo tanto aos apontamentos negativos feitos por eu concordar com eles. Talvez me apontar como uma pessoa insuportável me afete tanto por eu realmente me achar insuportável…e, enfim…ter uma “verdade” jogada na sua cara sempre dói.

Absolutamente todo mundo tem um lado legal e um lado insuportável. Eu admito que sou bem sensível e posso estar exagerando na forma como recebo essas críticas. Talvez elas não sejam tão frequentes e sinceras quanto eu acho que são. A questão é que talvez elas sejam! Aí eu fico pensando se, caso realmente essas críticas sejam tão frequentes e sinceras quanto eu percebo, se elas são justas.

Se elas são, então mesmo eu tentando não ser (tão) insuportável, claramente não é o suficiente. Se não é o suficiente, talvez eu só esteja na turma errada. Eu acho que todo mundo em algum momento vai se encaixar melhor em um ciclo diferente. Por motivos diversos já mudei de ciclos por não me encaixar direito ali, e já vi pessoas irem embora de ciclos aos quais eu pertencia por motivos similares, me parece algo natural. Com o passar do tempo as pessoas mudam, seus humores, sua tolerância com tipos diferentes de defeitos, coisas que elas buscam nos amigos etc.

Acho que agora cabe e tomar um pouco de distância para tentar ver o quadro atual por completo e ver se é hora de mudar de ares, de prioridades, de comportamento. Acho que pela primeira vez em muito tempo eu estou sentindo uma baita dificuldade em me aceitar, com minhas qualidades e defeitos, e não tenho sentido muito suporte para tanto em alguns dos ambientes em que me coloco ultimamente.

Deixando claro que aqui, ao falar sobre auto aceitação, não confundo isso com autoindulgência. Meu problema é o contrário, eu simplesmente não estou conseguindo ser gentil comigo mesmo. E não tenho encontrado tanta paciência e gentileza fora de mim (em determinados ciclos sociais).

No fim, eu sigo sem respostas, mas talvez ao escrever isso eu tenha conseguido estabelecer ao menos um caminho diferente pra seguir. Agora é ver se eu consigo e se vai adiantar alguma coisa.

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Rogério Porto Ribeiro

Meio azedo, meio doce, meio salgado e meio amargo…depende muito do dia.